segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

"Só não existe remédio é para a sede do peixe."





O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem.
O que Deus quer é ver a gente aprendendo a ser capaz de ficar alegre a mais, no meio da alegria, e inda mais alegre ainda no meio da tristeza! Só assim, de repente, na horinha em que se quer, de propósito – por coragem. Como não ter Deus?! (...) O que não é Deus, é estado do demônio. Deus existe mesmo quando não há. Mas o demônio não precisa de existir para haver – a gente sabendo que ele não existe, aí é que ele toma conta de tudo. O inferno é um sem-fim que não se pode ver. Mas a gente quer Céu é porque quer um fim: mas um fim com depois dele a gente tudo vendo.

(Grande Sertão: Veredas)


"Em Ave, palavra, obra póstuma de Guimarães Rosa, este anúncio e este elogio à palavra convida-nos a voar e a inaugurar um tempo de sensibilidade, num tom de otimismo que é a marca das verdadeiras revoluções. Rosa escreve, por exemplo: "Só não existe remédio é para a sede do peixe."(1) Uma vez que por sua própria natureza já está mergulhado no que mata a sede. Em outras palavras, tudo tem solução, e se o peixe viesse a sentir sede, bastaria beber um pouco do elemento que tudo lhe dá."

(Gabriel Perissé, Mestre em Literatura Brasileira - USP)

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