segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

"O problema da comunicação era o de perto" (Millôr)





A incomunicabilidade humana é um fato. em parte pela nossa natural dificuldade, em parte porque “a alma do outro é uma floresta escura”, como disse Rilke(...) A realidade é que nos comunicamos pouco, e mal, e somos assim. Essa é uma condição natural dos humanos, como nascer com algum defeito físico do qual não temos culpa, mas perturba.
Além disso, há no outro uma reserva de mistério, um desejo de privacidade, que se defende de intrusões, por mais ansiedade que isso nos cause.
Saber se comunicar(...) é uma dádiva. Abre portas e janelas, promove generosidade e acolhimento. mas é raro. Em geral somos enrolados, tímidos, guardamos rancor, ou somos arrogantes - outra face da insegurança e do medo.
De saída olhamos o outro com suspeita: será que ele me entende? Será que fala a verdade? Será que posso baixar a guarda?
Casamentos, famílias, trabalho, projetos podem acabar em decepção: porque desejamos a perfeição, não conseguimos produzir o razoável.
Nossa ambiguidade não ajuda: quero amar, mas não quero que o outro descubra o que preciso esconder, e quem sabe ele há de querer me controlar. Penso em ficar só, mas minha natureza pede diálogo e afeto.(...)
Temos medo de falar, e de calar; terror de não ser ouvidos, e de ser escutados. Quero falar, mas exijo ser inteiramente compreendido, e assim me frustro; prefiro calar, para não assumir a responsabilidade sobre o efeito das minhas palavras, e assim, me isolo.
(...) Se nem sei direito quem sou, como conhecer melhor o outro, meu pai, meu filho, meu parceiro, meu amigo ou competidor(...) Como cuidar para que uma relação floresça em vez de nos envenenar?
No relacionamento em que se deseja boa parceria, importa(...) o equilíbrio entre rotina e mistério, surpresa e monotonia;(...) cada um tem a sua reserva pessoal impossível de partilhar mesmo no maior amor.
Sempre seremos dois: ser um só é ilusória promessa de um romantismo cruel.
(...)amor não é controle. Comunicar-se bem nada tem a ver com partilhar tudo(...)
Porém temos uma verdadeira obsessão por nos intrometer em tudo, saber tudo(...)
Perdemos, em algum momento, um pudor que não era hipocrisia.(...) Queremos abrir braços, pernas e alma(...) o secreto nos parece ofensivo.
Infantilmente, esperamos que nos entendam. Mais grave ainda: queremos que nos aprovem.

(Lya Luft, Múltipla Escolha)

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