quinta-feira, 31 de março de 2011

Terça Insana e Crônicas de Solidão










"Sandra, 50: quer tomar um café com alguém, acima de 35 anos; Maria Eugênia, 36: quer encontrar com alguém, 35-45; Maria de Tal, 42: quer encontrar com alguém, 40-45
Algo que eu gostaria de dizer é: quero conhecer pessoas sérias, com ótimo humor…sou uma pessoa q amo a vida,!!! bjs a todos!!!!
sou ainda um rascunho inacabado, de um sonho perfeito. Digo 'ainda' porque meus traços reais vão aparecendo a medida que me permito ser moldada pelo Amor. Caminho na busca por ver minha real face. Sei que verei essa obra acabada um dia. Serei feliz…Quer adentrar? O risco é todo seu….?!?!? aviso: sempre deixo marcas e marcas eternas" (trechos colhidos de diversas comunidades de relacionamento)




Rebeca

Eu tô pedindo
A tua mão!
E um pouquinho do braço...
Migalhas dormidas do teu pão
Raspas e restos
Me interessam...
Pequenas porções de ilusão
Mentiras sinceras me interessam
Me interessam, me interessam!!!! (Cazuza e Frejat)





Quem disse que não posso?? O que você não tem é coragem de fazer o mesmo, irmã! Vou colocar fotos, siiiimmm e também uns textos e encontrar alguém que preste.

Imagina!!!

Afinal,
Escutaaa, Tá me chamando de lixo? Eu tenho qualidades. E muitas.

II

Sabia-se hodierna, corriqueira, bla bla bla. Mas o potencial estava ali, era apenas se mostrar, com todo o seu physique du rôle... - expressão que uma cara escreveu pra ela no perfil. B a c a n a! depois que ela viu o que significava...

(como era amigo o google tradutor! - ia adotar a expressão)

Comum, sim. Mas e daí? Pela pesquisa no site podia ver barangas com um quilo de amiguinhos.

E de virtual a internet tem é nada. Virtuais são as pessoas que via na rua? Nem olhavam pra ela!?

E ele? deixou na espera, não deu notícia, isso depois de seis, seis, seis, seis meses de, sei lá, casamento????

"Eu quero é mais” para Rebeca se tornou mantra.

O carinha aí da casa da esquina me olha promentendo e não faz...Vai ver é bicha. Igual meu ex...
O preconceito curiosamente aumentava a autoestima...

Rebeca se exibia no site com fotos de festas, saídas com amigos, dançando, comendo, bebendo; compulsivamente colocava as imagens de felicidade - real apenas em imagem.
Roupas, boquinhas , rosto, corpo, citações de autores famosos (alguns jamais tinham escrito os textos postados): tudo em vitrine.

Pronta pra ser confundida com uma multidão a fazer o mesmo.


...

Ah, mas aquele loiro que entrou no meu perfil é o sonho perfeito. Com esse eu saio.

Meu ex vai me ver, morrer de raiva, perceber o que perdeu, sentir falta, ficar pasmo, cabisbaixo, bla bla bla.

Pensamentos aflitos, pulsação urgente.Tudo no conforto do lar.

III

Telefone, campainha no máximo, distorcendo som.Uma voz maviosa dizia o oi gata de sempre. Ela a d o r o u. Se sentiu.

E foi.
Para o boteco, ela mesma convidou.

Ah, sou livre e moderna e a foto dele, hummmmmm...
Que macho, hein? E me envia mensagens tão mentirosamente lindas...

IV

O boteco estava encervejado e apinhado. Olhou em volta, reconheceu a face.

Como chego? como falo? meu Deeeus, acho que volto pra casa agora.

Não. Uso meu charme.
Será que essa calça tá boa? A outra arredondava mais a bundinha...

Chegou pertinho, disse boa noite, sorrisos, sentou. Pretendia falar muito. Cabelo pra lá, cabelo pra cá, boquinha distorcendo o batom.

O homem não mostrou os dentes. Olhou, olhou, olhou.
Passou o scanner.

Na ilusão de Rebeca, a conversa amigável. Simpatias em comum. Tudo certo. Pronta pro bote.

Na desilusão dele...
BARALHO.. FDP, q mina feia du caramba PQP... na foto de biquini era mais interessante. Tudo photoshop... Como eu...????

Aí, gata, meu amigo sofreu um acidente. Vou lá. Você pega um táxi? Eu pago.
Voce é dez, tá ligada? Muito linda.

Sem bla bla bla...

V

Sorriso amarelo, ela continuou a mexer no toucinho cheio de alho e óleo.
Mãos de colesterol, bumbum nada redondo e queixante, não perdeu o rebolado.

Mirou um qualquer não virtual e sorriu.
e bla, bla, bla,bla,bla,bla.

Fisgou. A carência comum fazia deles o casal perfeito.


O convite de casamento foi enviado pelo orkut.

Rosane Gomes

Mulher Moderna








Cotidiano

Chico Buarque


Todo dia ela faz tudo sempre igual:

Me sacode às seis horas da manhã,

Me sorri um sorriso pontual

E me beija com a boca de hortelã.

Todo dia ela diz que é pr'eu me cuidar

E essas coisas que diz toda mulher.

Diz que está me esperando pr'o jantar

E me beija com a boca de café.

Todo dia eu só penso em poder parar;

Meio-dia eu só penso em dizer não,

Depois penso na vida pra levar

E me calo com a boca de feijão.

Seis da tarde, como era de se esperar,

Ela pega e me espera no portão

Diz que está muito louca pra beijar

E me beija com a boca de paixão.

Toda noite ela diz pr'eu não me afastar;

Meia-noite ela jura eterno amor

E me aperta pr'eu quase sufocar

E me morde com a boca de pavor.

Todo dia ela faz tudo sempre igual:

Me sacode às seis horas da manhã,

Me sorri um sorriso pontual

E me beija com a boca de hortelã.

Todo dia ela diz que é pr'eu me cuidar

E essas coisas que diz toda mulher.

Diz que está me esperando pr'o jantar

E me beija com a boca de café.

Todo dia eu só penso em poder parar;

Meio-dia eu só penso em dizer não,

Depois penso na vida pra levar

E me calo com a boca de feijão.

Seis da tarde, como era de se esperar,

Ela pega e me espera no portão

Diz que está muito louca pra beijar

E me beija com a boca de paixão.

Toda noite ela diz pr'eu não me afastar;

Meia-noite ela jura eterno amor

E me aperta pr'eu quase sufocar

E me morde com a boca de pavor.

Todo dia ela faz tudo sempre igual:

Me sacode às seis horas da manhã,


Me sorri um sorriso pontual

E me beija com a boca de hortelã.

Acorda amor/Eu tive um pesadelo agora/Sonhei que tinha gente lá fora/Batendo no portão, que aflição...









Construção

Chico Buarque

Amou daquela vez como se fosse a última

Beijou sua mulher como se fosse a última

E cada filho seu como se fosse o único

E atravessou a rua com seu passo tímido

Subiu a construção como se fosse máquina

Ergueu no patamar quatro paredes sólidas

Tijolo com tijolo num desenho mágico

Seus olhos embotados de cimento e lágrima

Sentou pra descansar como se fosse sábado

Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe

Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago

Dançou e gargalhou como se ouvisse música

E tropeçou no céu como se fosse um bêbado

E flutuou no ar como se fosse um pássaro

E se acabou no chão feito um pacote flácido

Agonizou no meio do passeio público

Morreu na contramão atrapalhando o tráfego

Amou daquela vez como se fosse o último

Beijou sua mulher como se fosse a única

E cada filho seu como se fosse o pródigo

E atravessou a rua com seu passo bêbado

Subiu a construção como se fosse sólido

Ergueu no patamar quatro paredes mágicas

Tijolo com tijolo num desenho lógico

Seus olhos embotados de cimento e tráfego

Sentou pra descansar como se fosse um príncipe

Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo

Bebeu e soluçou como se fosse máquina

Dançou e gargalhou como se fosse o próximo

E tropeçou no céu como se ouvisse música

E flutuou no ar como se fosse sábado

E se acabou no chão feito um pacote tímido

Agonizou no meio do passeio náufrago

Morreu na contramão atrapalhando o público

Amou daquela vez como se fosse máquina

Beijou sua mulher como se fosse lógico

Ergueu no patamar quatro paredes flácidas

Sentou pra descansar como se fosse um pássaro

E flutuou no ar como se fosse um príncipe

E se acabou no chão feito um pacote bêbado

Morreu na contra-mão atrapalhando o sábado

Por esse pão pra comer, por esse chão pra dormir

A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir

Por me deixar respirar, por me deixar existir,

Deus lhe pague

Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir

Pela fumaça e a desgraça, que a gente tem que tossir

Pelos andaimes pingentes que a gente tem que cair,

Deus lhe pague

Pela mulher carpideira pra nos louvar e cuspir

E pelas moscas bicheiras a nos beijar e cobrir

E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir,

Deus lhe pague

quinta-feira, 24 de março de 2011

No amor a gente é terrorista fracassado



Saúde

Composição: Rita Lee/Roberto de Carvalho

Me cansei de lero-lero

Dá licença, mas eu vou sair do sério

Quero mais saúde

Me cansei de escutar opiniões

De como ter um mundo melhor

Mas ninguém sai de cima, nesse chove-não-molha

Eu sei que agora eu vou é cuidar mais de mim


Como vai? Tudo bem

Apesar, contudo, todavia, mas, porém

As águas vão rolar, não vou chorar


Se por acaso morrer do coração

É sinal que amei demais

Mas enquanto estou viva e cheia de graça

Talvez ainda faça um monte de gente feliz

Como vai? Tudo bem

Apesar, contudo, todavia, mas, porém

As águas vão rolar, não vou chorar, não!

Se por acaso morrer do coração

É sinal que amei demais

Mas enquanto estou viva e cheia de graça

Talvez ainda faça um monte de gente feliz

terça-feira, 22 de março de 2011

O acaso vai me proteger
/Enquanto eu andar distraído/
O acaso vai me proteger/
Enquanto eu andar...




MORALIZA O POETA NOS
OCIDENTES DO SOL A INCONSTÂNCIA
DOS BENS DO MUNDO

Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
Depois da Luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria.

Porém se acaba o Sol, por que nascia?
Se formosa a Luz é, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?

Mas no Sol, e na Luz, falte a firmeza,
Na formosura não se dê constância,
E na alegria sinta-se tristeza.

Começa o mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza
A firmeza somente na inconstância.

Gregório de Mattos

segunda-feira, 21 de março de 2011

Que só eu que podia
/Dentro da tua orelha fria
/Dizer segredos de liquidificador...




Poema de Manuel Antônio de Almeida


Mulher, irmã, escuta-me: não ames
Quando a teus pés um homem terno e curvo
Jurar amor, chorar pranto de sangue,
Não creias, não, mulher: ele te engana!
As lágrimas são galas da mentira
E o juramento manto da perfídia.

Gala = enfeite perfídia = deslealdade, traição

Tradução de Manuel Bandeira

Teresa, se algum sujeito bancar o sentimental em cima de você
E te jurar uma paixão do tamanho de um bonde
Se ele chorar
Se ele ajoelhar
Se ele se rasgar todo
Não acredite não Tereza
É lágrima de cinema
É tapeação
Mentira
Cai fora.

You must remember this/ A kiss is still a kiss /A sigh is just a sigh/ The fundamental things aplly/ As time goes by...



Well, it's still the same old story
A fight for love and glory
A case of do or die
The world will always welcome lovers
As time goes by



Quero saber se você vem comigo
a não andar e não falar,
quero saber se ao fim alcançaremos
a incomunicação; por fim
ir com alguém a ver o ar puro,
a luz listrada do mar de cada dia
ou um objeto terrestre
e não ter nada que trocar
por fim, não introduzir mercadorias
como o faziam os colonizadores
trocando baralhinhos por silêncio.
Pago eu aqui por teu silêncio.
acordo, eu te dou o meu
com uma condição: não nos compreender

Pablo Neruda (Últimos Poemas)

sábado, 19 de março de 2011

Boa música e bobaginhas...



@ naoehamor   


O amor não eleva as pessoas. O nome disso é ascensorista. O amor é outra coisa.

O amor não remove as pedras no seu caminho. Isso é tratamento de cálculo renal. O amor é outra coisa.



O amor não deixa a vida mais colorida. O nome disso é LSD. O amor é outra coisa.



O amor não é aquilo que entra na sua vida e muda tudo de lugar. O nome disso é empregada nova. O amor é outra coisa. 



O amor não te leva a lugares inesperados. Isso é sequestro relâmpago. O amor é outra coisa.

O amor não te leva a fazer loucuras com a língua. O nome disso é convulsão. O amor é outra coisa.

O amor não te faz perder horas de sono. O nome disso é trabalho escolar. O amor é outra coisa.

Amor não é aquilo que deixa o coração comprometido. O nome disso é lesão do miocárdio. Amor é outra coisa.

Amor não é aquilo que faz você não querer mais nada, não largar mais ele e dá inveja nos amigos. Isso é iPad. Amor é outra coisa.

O amor não é aquilo que te norteia. O nome disso é bússola. O amor é outra coisa.

O amor não é aquilo que vai, volta e nunca compensa. O nome disso é cheque sem fundo. O amor é outra coisa.




O amor não faz você perder a noção do tempo. O nome disso é horário de verão. O amor é outra coisa.



O amor não te faz esquecer os problemas e pular de alegria. O nome disso é carnaval. O amor é outra coisa.



O amor não te marca com aquela música que só te maltrata. Isso é a vinheta do Fantástico. O amor é outra coisa. 



O amor não é aquilo que te alegra mas depois te decepciona. Isso é feijão em pote de sorvete. O amor é outra coisa. 


Amor não é aquilo que gruda em você mas quando vai embora arranca lágrimas. O nome disso é cera quente. Amor é outra coisa.


O amor não te dá uma nova identidade. O nome disso é Serviço de Proteção à Testemunha. O amor é outra coisa.

Chico e Neruda





Tu eras também uma pequena folha
que tremia no meu peito.
O vento da vida pôs-te ali.
A princípio não te vi: não soube
que ias comigo,
até que as tuas raízes
atravessaram o meu peito,
se uniram aos fios do meu sangue,
falaram pela minha boca,
floresceram comigo.

Pablo Neruda

Dobradinha




PAZ

Vou sem pressa
para a casa
que há em mim.

Fabio Rocha

(do livro NO FIM, COMEÇO)

domingo, 13 de março de 2011

O seu santo nome - Carlos Drummond de Andrade



Foto retirada de http://menina-mae-mulher.blogspot.com/2010/08/silencio.html




Não facilite com a palavra amor.
Não a jogue no espaço, bolha de sabão.
Não se inebrie com o seu engalanado som.
Não a empregue sem razão acima de toda razão (e é raro).
Não brinque, não experimente, não cometa a loucura sem remissão
de espalhar aos quatro ventos do mundo essa palavra
que é toda sigilo e nudez, perfeição e exílio na Terra.
Não a pronuncie.

Seu coração é livre, tanto que prende o meu... seu coração nem sabe por que o meu amor é tão igual ao seu...



Para meu filho

O teu riso

Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar, mas não
me tires o teu riso.

Não me tires a rosa,
a lança que desfolhas,
a água que de súbito
brota da tua alegria,
a repentina onda
de prata que em ti nasce.

A minha luta é dura e regresso
com os olhos cansados
às vezes por ver
que a terra não muda,
mas ao entrar teu riso
sobe ao céu a procurar-me
e abre-me todas
as portas da vida.

Meu amor, nos momentos
mais escuros solta
o teu riso e se de súbito
vires que o meu sangue mancha
as pedras da rua,
ri, porque o teu riso
será para as minhas mãos
como uma espada fresca.


À beira do mar, no outono,
teu riso deve erguer
sua cascata de espuma,
e na primavera, amor,
quero teu riso como
a flor que esperava,
a flor azul, a rosa
da minha pátria sonora.

Ri-te da noite,
do dia, da lua,
ri-te das ruas
tortas da ilha,
ri-te deste grosseiro
rapaz que te ama,
mas quando abro
os olhos e os fecho,
quando meus passos vão,
quando voltam meus passos,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,
porque então morreria.

Pablo Neruda

Histórias e músicas de Francisco - 8 As meninas de Mônica Menezes



Joana Francesa

Chico Buarque

Tu ris, tu mens trop
Tu pleures, tu meurs trop
Tu as le tropique
Dans le sang et sur la peau
Geme de loucura e de torpor
Já é madrugada
Acorda, acorda, acorda, acorda, acorda
Mata-me de rir
Fala-me de amor
Songes et mensonges
Sei de longe e sei de cor
Geme de prazer e de pavor
Já é madrugada
Acorda, acorda, acorda, acorda, acorda
Vem molhar meu colo
Vou te consolar
Vem, mulato mole
Dançar dans mes bras
Vem, moleque me dizer
Onde é que está
Ton soleil, ta braise
Quem me enfeitiçou
O mar, marée, bateau
Tu as le parfum
De la cachaça e de suor
Geme de preguiça e de calor
Já é madrugada
Acorda, acorda, acorda, acorda, acorda

Histórias e músicas de Francisco - 7

Histórias e músicas de Francisco - 6

Histórias e músicas de Francisco - 5

Histórias e músicas de Francisco - 4

Histórias e músicas de Francisco - 3

Histórias e músicas de Francisco - 2

Histórias e músicas de Francisco - 1

sexta-feira, 11 de março de 2011

Só se controla a natureza controlando a natureza humana. (Millôr.Bíblia do Caos)


Millôr - Fotos impossíveis - by Erik Johansson




Gregório de Mattos Guerra

MORALIZA O POETA NOS
OCIDENTES DO SOL A INCONSTÂNCIA
DOS BENS DO MUNDO


Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
Depois da Luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria.

Porém se acaba o Sol, por que nascia?
Se formosa a Luz é, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?

Mas no Sol, e na Luz, falte a firmeza,
Na formosura não se dê constância,
E na alegria sinta-se tristeza.

Começa o mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza
A firmeza somente na inconstância.

The possible dream


https://www.youtube.com/watch?v=fjCIWpfVdsk

The Impossible Dream

To dream the impossible dream
To fight the unbeatable foe
To bear with unbearable sorrow
To run where the brave dare not go

To right the unrightable wrong
To be better afar than you are
To try when your arms are too weary
The reach the unreachable star

This is my quest, to follow that star
No matter how hopeless,
No matter how far
TO FIGHT FOR THE RIGHT
WITHOUT QUESTION OR PAUSE
To be willing to march into hell
For a heavenly cause

And I know if I'll only be true
To this glorious quest
That my heart will lie peaceful and calm
When I'm laid to my rest

And the world would be better for this
AND THE WORLD WOULD BE BETTER FOR THIS
That ONE MAN scorned and covered with scars
STILL STROVE WITH HIS LAST OUNCE OF COURAGE
To reach the unreachable star

And I'll always dream

The impossible dream

Yes, and I'll reach

The unreachable star

Fundo de Quintal e Gabriel O Pensador- Boca sem dente

quarta-feira, 9 de março de 2011

Hilda Hilst, Ivan Lins e Elis Regina

"Meu amor!!! Se quiseres voltar. Volta não! Porque me quebraste em mil pedaços!"









Se te pareço noturna e imperfeita
Olha-me de novo. Porque esta noite
Olhei-me a mim, como se tu me olhasses.
E era como se a água
Desejasse
 


Escapar de sua casa que é o rio
E deslizando apenas, nem tocar a margem.
 


Te olhei. E há tanto tempo
Entendo que sou terra. Há tanto tempo

Espero
Que o teu corpo de água mais fraterno
Se estenda sobre o meu. Pastor e nauta
 


Olha-me de novo. Com menos altivez.
E mais atento.

Hilda Hilst

Non, Je Ne Regrette Rien... Me descobrir tão sal e doce; e o que era amargo - acabou-se...





Non, Je Ne Regrette Rien

Composição: Michel Vaucaire / Charles Dumont

Non... rien de rien...

Non... je ne regrette rien

Ni le bien qu'on ma fait,

Ni le mal - tout ça m'est bien égal!



Non... rien de rien...

Non... je ne regrette rien

C'est payé, balayé, oublié,

Je me fous du passé!



Avec mes souvenirs

J'ai allumé le feu,

Mes chagrins, mes plaisirs,

Je n'ai plus besoin d'eux!


Balayé les amours

Avec leurs trémolos

Balayés pour toujours

Je repars à zéro...


Non... rien de rien...

Non... je ne regrette rien

Ni le bien qu'on ma fait,

Ni le mal - tout ça m'est bien égal!

Non... rien de rien...

Non... je ne regrette rien

Car ma vie, car mes joies,

Aujourd'hui, ça commence avec toi!

Fernando Pessoa - Mensagem

MENSAGEM


Nota Preliminar

Benedictus Dominus Deus noster qui dedit nobis signum




O entendimento dos símbolos e dos rituais (simbólicos) exige do intérprete que possua cinco qualidades ou condições, sem as quais os símbolos serão para ele mortos, e ele um morto para eles.

A primeira é a simpatia; não direi a primeira em tempo, mas a primeira conforme vou citando, e cito por graus de simplicidade. Tem o intérprete que sentir simpatia pelo símbolo que se propõe interpretar. A atitude cauta, a irônica, a deslocada – todas elas privam o intérprete da primeira condição para poder interpretar.

A segunda é a intuição. A simpatia pode auxiliá-la, se ela já existe, porém não criá-la. Por intuição se entende aquela espécie de entendimento com que se sente o que está além do símbolo, sem que se veja.
 
 A terceira é a inteligência. A inteligência analisa, decompõe, ordena, constrói noutro nível o símbolo; tem, porém, que fazê-lo depois que se usou da simpatia e da intuição.
 Um dos fins da inteligência, no exame dos símbolos, é o de relacionar no alto o que está de acordo com a relação que está embaixo. Não poderá fazer isto se a simpatia não tiver lembrado essa relação, se a intuição a não estiver estabelecido. Então, a inteligência, de discursiva que naturalmente é, se tornará analógica, e o símbolo poderá ser interpretado.

  A quarta é a compreensão, entendendo por esta palavra o conhecimento de outras matérias, que permitam que o símbolo seja iluminado por várias luzes, relacionado com vários outros símbolos, pois que, no fundo, é tudo o mesmo. Não direi a erudição, como poderia ter dito, pois a erudição é uma soma; nem direi cultura, pois a cultura é uma síntese, e a compreensão é uma vida. Assim certos símbolos não podem ser bem entendidos se não houver antes, ou no mesmo tempo, o entendimento de símbolos diferentes.

A quinta é a menos definível. Direi talvez, falando a uns, que é a graça, falando a outros, que é a mão do Superior Incógnito, falando a terceiros, que é o Conhecimento e a Conversação do Santo Anjo da Guarda, entendendo cada uma destas coisas, que são a mesma da maneira como as entendem aqueles que delas usam, falando ou escrevendo.



Apontamento sem data

terça-feira, 8 de março de 2011

Junto à minha rua havia um bosque/ 
Que um muro alto proibia /
Lá todo balão caia, toda maçã nascia/ 
E o dono do bosque nem via 
...





Todo o Sentimento

Chico Buarque e C. Bastos

Preciso não dormir

Até se consumar

O tempo da gente.

Preciso conduzir

Um tempo de te amar,

Te amando devagar e urgentemente.

Pretendo descobrir

No último momento

Um tempo que refaz o que desfez,

Que recolhe todo sentimento

E bota no corpo uma outra vez.

Prometo te querer

Até o amor cair

Doente, doente...

Prefiro, então, partir

A tempo de poder

A gente se desvencilhar da gente.

Depois de te perder,

Te encontro, com certeza,

Talvez num tempo da delicadeza,

Onde não diremos nada;

Nada aconteceu.

Apenas seguirei

Como encantado ao lado teu.

Quem dera o mundo fosse romântico - e tão simples...

Dobradinha





segunda-feira, 7 de março de 2011

Póthos - Armando, ausente. Santa, ausente. Aurélio, ausente. Nelly, ausente. Will, ausente...










A UM AUSENTE



Tenho razão de sentir saudade,

tenho razão de te acusar.

Houve um pacto implícito que rompeste

e sem te despedires foste embora.

Detonaste o pacto.

Detonaste a vida geral, a comum aquiescência

de viver e explorar os rumos de obscuridade

sem prazo sem consulta sem provocação

até o limite das folhas caídas na hora de cair.


Antecipaste a hora.

Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas.

Que poderias ter feito de mais grave

do que o ato sem continuação, o ato em si,

o ato que não ousamos nem sabemos ousar

porque depois dele não há nada?


Tenho razão para sentir saudade de ti,

de nossa convivência em falas camaradas,

simples apertar de mãos, nem isso, voz

modulando sílabas conhecidas e banais

que eram sempre certeza e segurança.


Sim, tenho saudades.

Sim, acuso-te porque fizeste

o não previsto nas leis da amizade e da natureza

nem nos deixaste sequer o direito de indagar

porque o fizeste, porque te foste.


Carlos Drummond de Andrade

A Paz - Gilberto Gil



A Paz

Composição: Gilberto Gil & João Donato


A paz invadiu o meu coração
De repente, me encheu de paz
Como se o vento de um tufão
Arrancasse meus pés do chão
Onde eu já não me enterro mais
A paz fez um mar da revolução
Invadir meu destino; A paz
Como aquela grande explosão
Uma bomba sobre o Japão
Fez nascer o Japão da paz
Eu pensei em mim
Eu pensei em ti
Eu chorei por nós
Que contradição
Só a guerra faz
Nosso amor em paz
Eu vim
Vim parar na beira do cais
Onde a estrada chegou ao fim
Onde o fim da tarde é lilás
Onde o mar arrebenta em mim
O lamento de tantos "ais"

Come to Jesus





Untitled Hymn (Come to Jesus)

Chris Rice

Weak and wounded sinner
Lost and left to die
O, raise your head, for love is passing by
Come to Jesus
Come to Jesus
Come to Jesus and live!

Now your burden's lifted
And carried far away
And precious blood has washed away the stain, so
Sing to Jesus
Sing to Jesus
Sing to Jesus and live!

And like a newborn baby
Don't be afraid to crawl
And remember when you walk
Sometimes we fall...so
Fall on Jesus
Fall on Jesus
Fall on Jesus and live!

Sometimes the way is lonely
And steep and filled with pain
So if your sky is dark and pours the rain, then
Cry to Jesus
Cry to Jesus
Cry to Jesus and live!

O, and when the love spills over
And music fills the night
And when you can't contain your joy inside, then
Dance for Jesus
Dance for Jesus
Dance for Jesus and live!

And with your final heartbeat
Kiss the world goodbye
Then go in peace, and laugh on Glory's side, and
Fly to Jesus
Fly to Jesus
Fly to Jesus and live!

Testify to Love performed by Wynonna Judd 
this clip is from the Tv series Touched By An Angel (psalm 151).







Testify To Love

Wynonna Judd

All the colors of the rainbow
All the voices of the wind
Every dream that reaches out
That reaches out to find where love begins
Every word of every story
Every star in every sky
Every corner of creation lives to testify

For as long as I shall live
I will testify to love
I'll be a witness in the silences
when words are not enough
With every breath I take
I will give thanks to God above
For as long as I shall live
I will testify to love

From the mountains to the valleys
From the rivers to the sea
Every hand that reaches out
Every hand that reaches out to offer peace
Every simple act of mercy
Every step to kingdom come
All the hope in every heart will speak
what love has done

For as long as I shall live
I will testify to love
I'll be a witness in the silences
when words are not enough
With every breath I take
will give thanks to God above
For as long as I shall live
I will testify....
I will testify to love
(For as long as I shall live
I will testify to love)
I'll be a witness in the silences
when words are not enough
With every breath I take
Will give thanks to God above
For as long as I shall live
I will testify to love

MY WAY









My Way

Claude François / Jacques Revaux / Paul Anka

And now the end is near
And so I face the final curtain
My friend, I'll say it clear
I'll state my case of which I'm certain

I've lived a life that's full
I traveled each and every highway
And more, much more than this
I did it my way

Regrets, I've had a few
But then again, too few to mention
I did what I had to do
And saw it through without exemption

I've planned each charted course
Each careful step along the byway
And more, much more than this
I did it my way

Yes there were times, I'm sure you knew
When I bit off more than I could chew
But through it all when there was doubt
I ate it up and spit it out

I faced it all and I stood tall
And did it my way

I've loved, I've laughed and cried
I've had my fill, my share of losing
And now as tears subside
I find it all so amusing

To think I did all that
And may I say, not in a shy way
Oh no, oh no, not me
I did it my way

For what is a man, what has he got?
If not himself, than he has naugth
To say the things he truly feels
And not the words of one who kneels

The record shows, I took the blows
And did it my way

Para Mariana






"Se fosse permitido/ eu revertia o tempo..." (Uma Canção Desnaturada, de Chico Buarque)



Valsa para uma Menininha


Toquinho/Vinícius de Moraes

Menininha do meu coração

Eu só quero você

A três palmos do chão

Menininha não cresça mais não

Fique pequenininha

Na minha canção

Senhorinha levada

Batendo palminha

Fingindo asustada do bicho papão

Menininha que graça é você

Uma coisinha assim começando a viver

Fique assim meu amor sem crescer

Porque o mundo é ruim

É ruim e você vai sofrer de repente

Uma desilusão

Porque a vida é somente teu bicho papão

Fique assim, fique assim, sempre assim

E se lembre de mim


Pelas coisas que eu dei

E também não se esqueça de mim

Quando você souber enfim
De tudo que eu amei.

Um lugar deve existir/Uma espécie de bazar/Onde os sonhos extraviados/ Vão parar...

A Moça Do Sonho

Chico Buarque / Edu Lobo

Súbito me encantou
A moça em contraluz
Arrisquei perguntar: quem és?
Mas fraquejou a voz
Sem jeito eu lhe pegava as mãos
Como quem desatasse um nó
Soprei seu rosto sem pensar
E o rosto se desfez em pó

Por encanto voltou
Cantando a meia voz
Súbito perguntei: quem és?
Mas oscilou a luz
Fugia devagar de mim
E quando a segurei, gemeu
O seu vestido se partiu
E o rosto já não era o seu

Há de haver algum lugar
Um confuso casarão
Onde os sonhos serão reais
E a vida não
Por ali reinaria meu bem
Com seus risos, seus ais, sua tez
E uma cama onde á  noite
Sonhasse comigo
Talvez

Um lugar deve existir
Uma espécie de bazar
Onde os sonhos extraviados
Vão parar
Entre escadas que fogem dos pés
E relógios que rodam pra trás
Se eu pudesse encontrar meu amor
Não voltava
Jamais



O Quereres

Caetano Veloso

Onde queres revólver, sou coqueiro

E onde queres dinheiro, sou paixão

Onde queres descanso, sou desejo

E onde sou só desejo, queres não

E onde não queres nada, nada falta

E onde voas bem alto, eu sou o chão

E onde pisas o chão, minha alma salta

E ganha liberdade na amplidão

Onde queres família, sou maluco

E onde queres romântico, burguês

Onde queres Leblon, sou Pernambuco

E onde queres eunuco, garanhão

Onde queres o sim e o não, talvez

E onde vês, eu não vislumbro razão

Onde o queres o lobo, eu sou o irmão

E onde queres cowboy, eu sou chinês

Ah! Bruta flor do querer

Ah! Bruta flor, bruta flor

Onde queres o ato, eu sou o espírito

E onde queres ternura, eu sou tesão

Onde queres o livre, decassílabo

E onde buscas o anjo, sou mulher

Onde queres prazer, sou o que dói

E onde queres tortura, mansidão

Onde queres um lar, revolução

E onde queres bandido, sou herói

Eu queria querer-te amar o amor

Construir-nos dulcíssima prisão

Encontrar a mais justa adequação

Tudo métrica e rima e nunca dor

Mas a vida é real e é de viés

E vê só que cilada o amor me armou

Eu te quero (e não queres) como sou

Não te quero (e não queres) como és

Ah! Bruta flor do querer

Ah! Bruta flor, bruta flor

Onde queres comício, flipper-vídeo

E onde queres romance, rock?n roll

Onde queres a lua, eu sou o sol

E onde a pura natura, o inseticídio

Onde queres mistério, eu sou a luz

E onde queres um canto, o mundo inteiro

Onde queres quaresma, fevereiro

E onde queres coqueiro, eu sou obus

O quereres e o estares sempre a fim

Do que em ti é em mim tão desigual

Faz-me querer-te bem, querer-te mal

Bem a ti, mal ao quereres assim

Infinitivamente impessoal

E eu querendo querer-te sem ter fim

E, querendo-te, aprender o total

Do querer que há, e do que não há em mim

domingo, 6 de março de 2011

Eu protegi o teu nome por amor Em um codinome, Beija-flor... (Mil Perdões)




Codinome Beija-Flor

Composição: Cazuza / Ezequiel Neves / Reinaldo Arias

Pra que mentir
Fingir que perdoou
Tentar ficar amigos sem rancor
A emoção acabou
Que coincidência é o amor
A nossa música nunca mais tocou...
Pra que usar de tanta educação
Pra destilar terceiras intenções
Desperdiçando o meu mel
Devagarzinho, flor em flor
Entre os meus inimigos, beija-flor
Eu protegi o teu nome por amor
Em um codinome, Beija-flor
Não responda nunca, meu amor
Pra qualquer um na rua, Beija-flor
Que só eu que podia
Dentro da tua orelha fria
Dizer segredos de liquidificador
Você sonhava acordada
Um jeito de não sentir dor
Prendia o choro e aguava o bom do amor
Prendia o choro e aguava o bom do amor

Vinícius de Moraes, Martha Medeiros e Chico Buarque



Medo de amar
Vinicius de Moraes

Vire essa folha do livro e se esqueça de mim

Finja que o amor acabou e se esqueça de mim

Você não compreendeu que o ciúme é um mal de raiz

E que ter medo de amar não faz ninguém feliz


Agora vá sua vida como você quer

Porém, não se surpreenda se uma outra mulher

Nascer de mim, como do deserto uma flor

E compreender que o ciúme é o perfume do amor








Ninguém ama outra pessoa pelas qualidades que ela tem, caso contrário os honestos, simpáticos e não fumantes teriam uma fila de pretendentes batendo a porta.

O amor não é chegado a fazer contas, não obedece à razão. O verdadeiro amor acontece por empatia, por magnetismo, por conjunção estelar.

Ninguém ama outra pessoa porque ela é educada, veste-se bem e é fã do Caetano. Isso são só referenciais.

Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá, ou pelo tormento que provoca.

Ama-se pelo tom de voz, pela maneira que os olhos piscam, pela fragilidade que se revela quando menos se espera.

Você ama aquela petulante. Você escreveu dúzias de cartas que ela não respondeu, você deu flores que ela deixou a seco.

Você gosta de rock e ela de chorinho, você gosta de praia e ela tem alergia a sol, você abomina Natal e ela detesta o Ano Novo, nem no
ódio vocês combinam. Então?

Então, que ela tem um jeito de sorrir que o deixa imobilizado, o beijo dela é mais viciante do que LSD, você adora brigar com ela e ela adora implicar com você. Isso tem nome.

Você ama aquele cafajeste. Ele diz que vai e não liga, ele veste o primeiro trapo que encontra no armário. Ele não emplaca uma semana nos empregos, está sempre duro, e é meio galinha. Ele não tem a
menor vocação para príncipe encantado e ainda assim você não consegue despachá-lo.

Quando a mão dele toca na sua nuca, você derrete feito manteiga. Ele toca gaita na boca, adora animais e escreve poemas. Por que você ama
este cara?

Não pergunte pra mim; você é inteligente. Lê livros, revistas, jornais. Gosta dos filmes dos irmãos Coen e do Robert Altman, mas sabe que uma boa comédia romântica também tem seu valor.

É bonita. Seu cabelo nasceu para ser sacudido num comercial de xampu e seu corpo tem todas as curvas no lugar. Independente, emprego fixo, bom saldo no banco. Gosta de viajar, de música, tem loucura
por computador e seu fettucine ao pesto é imbatível.

Você tem bom humor, não pega no pé de ninguém e adora sexo. Com um currículo desse, criatura, por que está sem um amor?

Ah, o amor, essa raposa. Quem dera o amor não fosse um sentimento, mas uma equação matemática: eu linda + você inteligente = dois apaixonados.

Não funciona assim.

Amar não requer conhecimento prévio nem consulta ao SPC. Ama-se justamente pelo que o Amor tem de indefinível.

Honestos existem aos milhares, generosos têm às pencas, bons motoristas e bons pais de família, tá assim, ó!

Mas ninguém consegue ser do jeito que o amor da sua vida é! Pense nisso. Pedir é a maneira mais eficaz de merecer. É a contingência maior de quem precisa.

Confluências






Soneto de Fidelidade



De tudo ao meu amor serei atento

Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto

Que mesmo em face do maior encanto

Dele se encante mais meu pensamento.



Quero vivê-lo em cada vão momento

E em seu louvor hei de espalhar meu canto

E rir meu riso e derramar meu pranto

Ao seu pesar ou seu contentamento



E assim, quando mais tarde me procure

Quem sabe a morte, angústia de quem vive

Quem sabe a solidão, fim de quem ama



Eu possa me dizer do amor (que tive):

Que não seja imortal, posto que é chama

Mas que seja infinito enquanto dure.

quinta-feira, 3 de março de 2011

E o problema da comunicação era o de perto...

CRÔNICAS DE SOLIDÃO IX - Paulinho da Viola Revisitado





"– Pra semana...
– O sinal...
– Eu procuro você...
– Vai abrir, vai abrir...
– Eu prometo, não esqueço, não esqueço...
– Por favor, não esqueça, não esqueça...
– Adeus!
– Adeus!
– Adeus!" (Paulinho da Viola)



Sinto você tão perto
sinto você tão longe

Não sei o som do seu “sim”,
do seu “nao”, do seu “sei’” do seu “entendo”,
do seu “gostei”
do seu “riso”


Não sei a cara da sua saudade
nem a do seu “euteamo”

às vezes rejeito o seu “:)” - inalcançável

o “;)” pode ser uma ironia?
Não vejo seu rosto...


Pior: vejo sua imagem num quadradinho pequeno
uma janela sem vidro
- sempre a mesma expressão...
(e se esse seu sorriso digital aparecer num dia pálido?)


assim ficamos fragmento
assim ficamos no “até mais”

“a gente se fala a gente se vê”


O que faz dessa realidade de pixels e teclas
- sem gosto, sem cheiro, sem pele -
algo tão fácil
tão pouco íntimo
e tão atropelado?

tudo é rápido
tudo interrompe
e os nossos sinais - que antes interrompiam o Tempo
agora

caem...


“Você não está conectado à internet
Você não está conectado à internet
(Ativar AirPort...)
Você não está conectado à internet
(Ativar AirPort...)
A conexão a internet parece estar desativada.

diagnóstico de rede...

eles caem,

ELES CAEM

na

solidão.

status, away...

quarta-feira, 2 de março de 2011

Olhei para cima e assoprei.
Foi tanta estrela caindo
que agora eu mal consigo enxergar de tanta esperança.

(Rita Apoena)


http://horasaveludadas.blogspot.com/

Fernando Pessoa

"Tenho pensamentos que, se pudesse revelá-los e fazê-los viver, acrescentariam nova luminosidade às estrelas, nova beleza ao mundo e maior amor ao coração dos homens."

Caio Fábio

A INVEJA É UMA MERVEJA!





A inveja é a cobiça do que não seja o eu, a própria pessoa; mas sim do que seja o outro, ou do outro, ou no outro, ou para o outro.

Portanto, a inveja é o ser adoecido pela fascinação do próximo...

É também por esta razão que a inveja carrega a morte do individuo, da sua própria pessoa e potenciais.

Sim, pois aquele que inveja desiste de si pela fantasia da absorção do outro...

Nesse caso, é claro, falo do invejoso rico de potenciais, mas que se fascina de modo tão adoecido pelas riquezas [de qualquer natureza] de um outro, a tal ponto que ele desiste do desenvolvimento de si mesmo, e opta pela busca mimética de assimilação do outro, ou da posse do que seja ao outro vinculado.

Entretanto, existe também o invejoso profissional, que é aquele individuo que assume que sua única virtude na vida é saber distinguir o que seja bom e belo nos outros, e, assim, admitir seu auto-seqüestro elegendo o ser do outro como “prisão domiciliar”.

Alguns invejosos são tão básicos que apenas desejam coisas ou materialidades do outros... Pode ser a posição, o status, a mulher, a família, a casa, o modo de vida... Esses invejam a existência do outro, com todas as coisas que, no conjunto, constituem a persona social daquele que seja o objeto da inveja.

Há, porém, os invejosos de subjetividades... Esses são os que amam tanto as riquezas interiores ou mentais, ou mesmo os dons e relacionalidades da pessoa admirada, que, em razão disso, o objeto da inveja passa ser odiado até à morte...; posto que sendo impossível ao invejoso assimilá-lo [o outro], a alternativa é não mais admitir uma existência que fascine tanto, que adoeça o invejoso pela impossibilidade de mimetizar o objeto do seu desejo de cobiçosa inveja.

O invejoso pobre de espírito [como se fosse possível haver um invejoso rico de espírito] sofre de modo básico e superficial, e, muitas vezes, sua inveja não é existencial, mas apenas de natureza social, econômica e estética.

Os piores invejosos são aqueles que não querem seu carro, sua casa, sua mulher, sua família, suas roupas, seus passeios, seus amigos, suas oportunidades... Sim, os piores são que querem ser você... Querem a sua mente, o seu saber, as suas emoções, o seu jeito, o seu modo, a sua alegria, as suas idéias, e até mesmo a sua alma...

Nesse mundo “cristão” já me vi objeto de todos os tipos de inveja. Das mais básicas e primitivas às mais sofisticadas...

No caso dos invejosos básicos e primitivos [os que cobiçam coisas e posições], tal inveja tende a crescer pela distancia... Quanto mais distantes estejam..., mais fantasiam sobre como seja viver a sua vida...

Já os invejosos sofisticados, os cobiçadores de mente e alma, são os mais danosos, pois, de fato, na mesma medida em que admirem homicidamente a você, na mesma medida farão de tudo para desconstruir você...; posto que seja no seu desaparecimento que eles julgam que surgirá o espaço para que eles sejam você — na sua ausência.

Os evangelhos colocam a inveja como força centrifuga no processo de maquinação da morte de Jesus.

Por mais de uma vez se diz que tinham inveja Dele e que por inveja o haviam entregado...

A história bíblia e observação humana em geral, nos mostram que um dos maiores impeditivos para a plena comunhão humana é a inveja.

E mais:

Pelas mesmas vias se observa também que todo dom trás seus próprios inimigos invejosos.

Somente sente inveja do mendigo, do desgraçado e do andrajoso, aquele que, pelo desespero, tenha desistido da vida, e, por isto, ambicione a morte ou a desgraça...

Todavia, o invejoso verdadeiro na sua inveja é aquele que quer absorver você...

Sim, tal pessoa admirará tanto a você que, não sabe existir em um mundo onde haja tal pessoa.

Em geral esse tipo de inveja acontece no coração do orgulhoso e narcisista. Ele gostaria de ser ver como ele vê a você, e, não sendo possível, surge nele o desejo de ser seu herdeiro oculto, assumindo o que seja seu ou que você tenha criado ou proposto, desde que você não esteja presente, pois, em estando, o invejoso sabe que não será mais possível que ele seja você ante os demais observadores...

Por isto todo espírito de inveja é homicida e aniquilante...

Sim, é homicida e aniquilante do ponto de vista psicológico e histórico...

Eles gostariam que você se danasse todo, que morresse para vida...

Ora, se a soberba é a condenação do diabo, a inveja é a condenação dos demônios menores, tanto diabólicos quanto humanos...

A soberba do diabo é inveja de Deus!

A inveja do homem é sua soberba pessoal em luta contra o dom de Deus no próximo.

Por isto, não há meio de haver vida de Deus em nenhum coração invejoso.

Sim, pois inveja é ingratidão ao extremo...

Inveja é raiva de Deus no próximo...

Inveja é o seqüestro do eu pela fantasia projeta sobre o outro.

Sendo assim, todo invejoso perde seu próprio eu, e existe para buscar assimilar o self de um outro.

Portanto, na inveja reside a auto-aniquilação do invejoso!...

Pense nisso!...



Nele, que nos ensina o caminho da alegria por sermos quem somos e também por cada um que seja alegremente quem em Deus possa ser,



Caio

20 de maio de 2009

Lago Norte

Brasília

DF

http://www.caiofabio.net/conteudo.asp?codigo=04776

Charles Aznavour

Maninha - Chico Buarque

Maninha

Se lembra da fogueira

Se lembra dos balões

Se lembra dos luares dos sertões

A roupa no varal, feriado nacional

E as estrelas salpicadas nas canções

Se lembra quando toda modinha falava de amor

pois nunca mais cantei, oh maninha

Depois que ele chegou

Se lembra da jaqueira

A fruta no capim

Dos sonhos que você contou pra mim

Os passos no porão, lembra da assombração

E das almas com perfume de jasmim

Se lembra do jardim, oh maninha

Coberto de flor
Pois hoje só dá erva daninha

No chão que ele pisou
Se lembra do futuro

Que a gente combinou

Eu era tão criança e ainda sou

Querendo acreditar que o dia vai raiar

Só porque uma cantiga anunciou

Mas não me deixe assim, tão sozinha

A me torturar

Que um dia ele vai embora, maninha

Prá nunca mais voltar...

Joana Francesa - Chico Buarque





Tu ris, tu mens trop
Tu pleures, tu meurs trop
Tu as le tropique
Dans le sang et sur la peau
Geme de loucura e de torpor
Já é madrugada
Acorda, acorda, acorda, acorda, acorda
Mata-me de rir
Fala-me de amor
Songes et mensonges
Sei de longe e sei de cor
Geme de prazer e de pavor
Já é madrugada
Acorda, acorda, acorda, acorda, acorda
Vem molhar meu colo
Vou te consolar
Vem, mulato mole
Dançar dans mes bras
Vem, moleque me dizer
Onde é que está
Ton soleil, ta braise
Quem me enfeitiçou
O mar, marée, bateau
Tu as le parfum
De la cachaça e de suor
Geme de preguiça e de calor
Já é madrugada
Acorda, acorda, acorda, acorda, acorda

D. SEBASTIÃO Rei de Portugal - Fernando Pessoa




Louco, sim, louco, porque quis grandeza
Qual a Sorte a não dá.
Não coube em mim minha certeza;
Por isso onde o areal está
Ficou meu ser que houve, não o que há.

Minha loucura, outros que me a tomem
Com o que nela ia.
Sem a loucura que é o homem
Mais que a besta sadia,
Cadáver adiado que procria?

DESACERTO








Tudo no lugar: ascéptico. Casa cenário.

Não pessoa, mas personagem, se comunicava ascepticamente também.

A auto suficiência, o ter razão lhe bastavam: detergentes.

Eu eu eu eu eu eu...

Faltavam-lhe no léxico outros pronomes...
Pela ausência morfológica, ausente de partilha. Convívio sim, comprometimento jamais.

Culpa da Assepsia.

Dia a dia, a vida saindo das artérias. Dia a dia, a jugular em risco.

Nem sabia que pessoas precisam minimamente de suor e pó. Não. Nunca.

O detersivo como um punhal, descaracterizava e corroía quaisquer faces, falas, sensibilidades.
Sujeira jamais.
Afinal, bastava-se a si mesmo.

Criador dos enredos, disse um dia: corta!


Pulsos rasgados. Sangue.

O corpo foi encontrado numa calçada em absoluta desordem.

CHICO BUARQUE E MESTRE MARÇAL - SEM COMPROMISSO - DEIXE A MENINA

Momento imperdível!

Milton Nascimento em Montreal

Black Alien

terça-feira, 1 de março de 2011

“Disponho-me a falar das formas mudadas em novos/ corpos. Ó deuses, no que comecei – também vós, na verdade, as mudastes –/ ajudai-me, e, desde a mais remota origem do mundo/ até os meus dias, fiai-me um poema contínuo.”Publius Ouidius Naso. Metamorphoseon I 1-4

INDECISÃO - Helena Parente Cunha

Todas as noites. a respiração acelerada. o corpo junto do corpo. A boca dentro da boca. Os braços infundindo nos braços. As pernas atravessando as pernas. As mãos incutindo espaços. O buscar de mais buscar. O corpo querendo entrar. o corpo pronto a acolher. O arfar. A espera. A sede, a rede. A parede. O corpo querendo entrar. Um corpo que se fechando. Não. Ela se solta, ela se assalta. ela se volta. Ele revolta. Não. Desta vez ele vai para nunca mais voltar.

Cem Mentiras de Verdade, 1990, editado pela Livraria José Olympio.

Millôr Fernandes - Bíblia do Caos

XII.
Agora, que já avançamos pelo século XXI, podemos fazer um pequeno balanço do que o século XX nos legou.

1. O atropelamento.
2. O salto suicida do décimo andar.
3. O envenenamento pela radioatividade.
4. A estupidificação pela televisão.
5. A queda do avião.
6. A democratização da aids.
7. A poluição, tornando verdadeira a frase "O mar não tá pra peixe".
8. O escorregão na Lua.
9. A morte no CTI.
10. A possibilidade de um final feliz, todo mundo acabando junto.
Que tal abrir a porta do dia
Entrar sem pedir licença
Sem parar pra pensar
Pensar em nada…
Andar sem rumo na rua
Pra viver e pra ver
Não é preciso muito
Atenção, a lição
Está em cada gesto
Tá no mar, tá no ar
No brilho dos seus olhos
Eu não quero tudo de uma vez
Eu só tenho um simples desejo
Hoje eu só quero que o dia termine bem
Hoje eu só quero que o dia termine muito bem...

(Jair Oliveira)

Minha Alma (A Paz Que Eu Nao Quero) O Rappa Composição: Marcelo Yuka

A minha alma tá armada e apontada
Para cara do sossego!

Pois paz sem voz, paz sem voz
Não é paz, é medo!
(Medo! Medo! Medo! Medo!)

As vezes eu falo com a vida,
As vezes é ela quem diz:

"Qual a paz que eu não quero conservar,
Prá tentar ser feliz?"


As grades do condomínio
São prá trazer proteção
Mas também trazem a dúvida
Se é você que tá nessa prisão
Me abrace e me dê um beijo,
Faça um filho comigo!
Mas não me deixe sentar na poltrona
No dia de domingo, domingo!
Procurando novas drogas de aluguel
Neste vídeo coagido...

É pela paz que eu não quero seguir admitindo

É pela paz que eu não quero seguir

É pela paz que eu não quero seguir

É pela paz que eu não quero seguir admitindo

A paz que eu não quero...

Alice Germain - É necessário ser feliz.

VIVER não é suficiente, pois o necessário é viver feliz. A existência só tem sentido e sabor se ela se transforma no tempo e no lugar da felicidade. O que esperamos da vida é a felicidade e, por vezes, passamos a vida toda esperando por ela. Nossa existência se assemelharia a uma caixa vazia, uma página em branco a ser preenchida de felicidade. Estamos condenados à tentativa de obter esse Graal que, supostamente, poderá nos garantir uma alegria duradoura.

De que se trata isso? De fato, o que é a felicidade? Um objeto (o dinheiro?), um lugar (o paraíso?), um tempo (os dias vindouros?), uma pessoa (Deus, os outros, nós mesmos?). O sucesso, o amor, a saúde, os prazeres, a beleza? ... Nesses desencantado mundo de hoje, o que aconteceu com a crença no paraíso pleno de felicidade? Para aqueles que crêem no Céu, assim como para os que não crêem nele, subsiste um desejo de felicidade feito de reencontros com os seres que um dia amamos e que nos amaram. O inferno não são os outros, muito pelo contrário: o paraíso é o reencontro de uns com outros.

Alice Germain no prólogo de "A mais bela história da felicidade - a recuperação da existência humana diante da desordem do mundo"; um diálogo com André Comte-Sponville, Jean Delumeau e Arlette Farge - Difel.

Machado de Assis - O Medo.

- NÃO SEI O QUE É MEDO, interrompeu ela com ingenuidade.

- Sim? Não a supunha valente. Pois eu sei o que ele é.

-O Medo? O medo é um preconceito dos nervos. E um preconceito desfaz-se; basta a simples reflexão. Em pequena educaram-me com almas do outro mundo. Até à idade de dez anos era incapaz de penetrar numa sala escura. Um dia perguntei a mim mesma ser era possível que uma pessoa morta voltasse à terra. Fazer a pergunta e dar-lhe resposta era a mesma cousa. Lavei o meu espírito de semelhante tolice... E daí talvez não: os corpos que ali dormem têm direito de não ouvir mais um só rumor de vida.

Machado de Assis em " Helena" - Livraria Garnier, p.46.

Rubem Alves - A luz da lua.

Os pores-do-sol nos comovem porque somos seres diurnos. Pôr-do-sol é fim do dia. Metáfora do fim da vida. Daí sua tristeza.

Mas, se fôssemos seres noturnos, aves para as quais o pôr-do-sol não é o fim mas o início - início da noite? Então, o sol poente anunciaria a madrugada da noite, o nascer do viver.
[...]
Entre nós, humanos, não haverá seres noturnos? Ou, indo um pouco mais a fundo: não haverá em todos nós um ser noturno que aparece quando o ser diurno vai dormir? O sol desperta em nós o ser que pensa, age e trabalhe. A Lua desperta em nós o ser que sonha, contempla e ama... Parodiando Bachelard: "Quer ficar tranquilo? Contemple a Lua que faz mansamente o seu trabalho de luz... ". Os amantes, contemplando a Lua refletida sobre o mar, estão vivendo a mansidão lisa que é necessária para o amor. Há recantos da alma que só acordam sob a luz branca e fria da Lua.

Rubem Alves em "Mansamente pastam as ovelhas..." Editora Papirus, p.54.

Marilena Chaui - liberdade e contingência

Marilena Chaui - liberdade e contingência


A LIBERDADE é a capacidade para darmos um sentido novo ao que parecia fatalidade, transformando a situação de fato numa realidade nova, criada por nossa ação. Essa força transformadora, que torna real o que era somente possível e que se achava apenas latente como possibilidade, é o que faz surgir uma obra de arte, uma obra de pensamento, uma ação heróica, um movimento anti-racista, uma luta contra a discriminação sexual ou de classe social, uma resistência à tirania e a vitória contra ela.

O possível não é pura contingência ou acaso. O necessário não é fatalidade bruta. O possível é o que se encontra aberto no coração do necessário e que nossa liberdade agarra para fazer-se liberdade. Nosso desejo e nossa vontade não são incondicionados, mas os condicionamentos não são obstáculos à liberdade e sim o meio pelo qual ela pode exercer-se.

Marilena Chaui em Convite à Filosofia, Editora Ática, p.339.

Padre Antônio Vieira

Livro é um mudo que fala, um surdo que responde, um cego que guia, um morto que vive.

João Guimarães Rosa - amor

O amor é a gente querendo achar o que é da gente... Mas, pensar na pessoa que se ama, é como querer ficar à beira d'água, esperando que o riacho, alguma hora, pousoso esbarre de correr.

João Guimarães Rosa em Grande Sertão Veredas, Ed.Nova Fronteira, p.361.

Millôr Fernandes - a história dos vencedores

A história é dos vitoriosos, isso já foi muito dito.O que não foi dito é que a história é, mais que tudo, de quem tem os melhores historiadores.Os romanos, por exemplo, não iam chamar de finos e eruditos os países que, ocasionalmente, os venciam.Nunca deram colher ao inimigo.Átila ficou na história como exemplo de monstruosidade e primarismo intelectual porque obrigou os romanos a pedir pinico-e não tinha um bom press-release.Você conhece algum historiador huno?

Millôr Fernandes em Millôr definitivo - L&PM Editores, p.226

Fiódor Dostoiévski - Felicidade

Uma gente laboriosa e mercadora; cuidam da 'felicidade geral';... Não, a vida me é dada uma vez, e ela nunca mais voltará: eu não quero esperar a 'felicidade geral'. E eu mesmo quero viver, do contrário o melhor seria não viver.

Fiódor Dostoiévski. Crime e Castigo Editora 34, página 284.

Adélia - entrevista



...”essa [minha] insistência no cotidiano é porque a gente só tem ele.
É muito difícil a gente se dar conta de que todos nós, artistas ou não, pessoas pobres ou ricas, nobres ou plebéias só temos o cotidiano e o cotidiano de todo mundo é absolutamente ordinário - ele não é extraordinário.

O cotidiano da rainha da Inglaterra deve ser tão insuportável como o de uma lavadeira(…) então, a cada um de nos cabe a vida comum (…) e eu tenho absoluta convicção de que é atrás e é através do cotidiano que se revelam a metafísica, a beleza.

A gente fala assim : " que vida bacana a santa Joana D'arc" (…) a gente quer uma vida heróica, nos todos aspiramos a uma vida heróica; ‘Deus me livre dessa vidinha minha, uma vidinha sem nenhum encanto’.

Mas essas vidas ficaram encantadoras depois que passaram. Já pensou Joana d'arc? que tristeza? presa, sujeita à morte, aquela roupa horrorosa, na poeira ?
E Eintein?( ‘ah o emprego que nao sai?’) fazendo cartinha pra arrumar emprego? Quem já leu biografia o dele sabe.

O cotidiano é na poeira e para todos nós.

E o mais bacana que tem é a gente tirar o nosso heróico, o nosso heroísmo deste cotidiano.

Tem um livro fundante pra nós , que se chama A Negação da Morte de Ernest Becker - ele fala: ‘O nosso heroísmo é aqui ó.’ É no pequenininho e naquela paciência impossível de ter que eu tenho que ter.

E você diz ' Deus me livre lidar com esse doente , com isso, com aquilo…eu queria viver como… e você bota um personagem bem famoso.

O personagem não existe! Não existe!

Caiamos na real… bonita é a nossa vida, a nossa vida é linda, mas é mesmo, é linda(…)

Só a morte dá um perfil pra nós - depois que a pessoa morre, (aquela pessoa anônima, de vida mais ordinária) ganha um perfil, um retrato - e às vezes heróico, porque viveu a vida que lhe foi dada.
Então o cotidiano pra mim é o grande tesouro…

Ortega y Gasset falou : admirar-se daquilo que é natural é que é o bacana... Admirar-se da água aqui ó….. quem se admira? ‘H2O’… conheço isso demais...

...Água, abacaxi, feijão, quem entende feijão? Alguém entende? Só no prato.

Mas a alma criadora , sensível, um belo dia se admira desse ser extraordinário que ninguém entende…

A vida é extraordinária.

Não sei que falou isso: admirar-se de um bezerro de duas cabeças qualquer débil se admira…
Mas admirar-se do que é natural… só quem tá cheio de Espirito Santo.

E O mundo é magnífico. Magnífico
É bom demais estar vivo. É bom demais
E eu quero esta vida, essa vidinha - essa que é a boa, com as chaturinhas dela, as coisas difíceis…
…e é maravilhoso, porque, quando você cai nesse lugar aí, você aceita sua vida, então você não sai à procura de heroísmos extraordinários.

Nós todos queremos no nosso currículo um ato heróico...
Às vezes ato mais heróico é o mais anônimo, mais silencioso que só Deus sabe -
a gente não conta nem pra pessoa mais íntima nossa.
Isso que é a maravilha, né?
Isso é uma coisa valiosa demais...


A vida humana.


Trancrição de entrevista concedida por Adélia Prado no programa "sempre um papo" da TV Senado. -

O Carioca É. Antes de Tudo. - Millôr Fernandes




Os paulistanos (!) que me perdoem, mas ser carioca é essencial. Os derrotistas que me desculpem, mas o carioca taí mesmo pra ficar e seu jeito não mudou. Continua livre por mais que o prendam, buscando uma comunicação humana por mais que o agridam, aceitando o pão que o diabo amassou como se fosse o leite da bondade humana. O carioca, todos sabem, é um cara nascido dois terços no Rio e outro terço em Minas, Ceará, Bahia, e São Paulo, sem falar em todos os outros Estados, sobretudo o maior deles o estado de espírito. Tira de letra, o carioca, no futebol como na vida. Não é um conformista -- mas sabe que a vida é aqui e agora e que tristezas não pagam dívidas. Sem fundamental violência, a violência nele é tão rara que a expressão "botei pra quebrar" significa exatamente o contrário, que não botou pra quebrar coisa nenhuma, mas apenas "rasgou a fantasia", conseguiu uma profunda e alegre comunicação -- numa festa, numa reunião, num bate-coxa, num ato de amor ou de paixão -- e se divertiu às pampas. Sem falar que sua diversão é definitivamente coletiva, ligada à dos outros. Pois, ou está na rua, que é de todos, ou no recesso do lar, que, no Rio é sempre, em qualquer classe social, uma open-house, aberta sob o signo humanístico do "pode vir que a casa é sua".

Carioca, é. Moreno e de 1,70 metro de altura na minha geração, com muitos louros de 1,80 metro importados da Escandinávia na geração atual, o carioca pensa que não trabalha. Virador por natureza, janota por defesa psicológica, autocrítico e autogozador não poupando, naturalmente, os amigos e a mãe dos amigos -- ele vai correndo à praia no tempo do almoço apenas pra livrar a cara da vergonhosa pecha de trabalhador incansável. E nisso se opõe frontalmente ao "paulista", que, se tiver que ir à praia nos dias da semana,vai escondido pra ninguém pensar que ele é um vagabundo.

Amante de sua cidade, patriota do seu bairro, o carioca vai de som (na música), vai de olho (é um paquerador incansável e tem um pescoço que gira 360 graus), vai de olfato (o odor é de suprema importância na fisiologia sexual do carioca).

Sem falar, que, em tudo, vai de espírito; digam o que disserem, o papo, invenção carioca, ainda é o melhor do Brasil, incorporando as tendências básicas do discurso nacional: o humanismo mineiro, o pragmatismo paulista, a verborragia baiana.

E basta ouvir pra ver que o nervo de todas as conversas cariocas, a do bar sofisticado como a do botequim pobre e sujo, por isso mesmo sofisticadíssimo, a do living-room granfa, a da cama (antes e depois), é o humor, a crítica, a piada, a graça, o descontraimento. Não há deuses e nada é sagrado no Olimpo da sacanagem. O carioca é, antes de tudo, e acima de tudo, um lúdico. Ainda mais forte e mais otimista do que o homem da anedota clássica que, atravessado de lado a lado por um punhal, dizia: "Só dói quando eu rio", o carioca, envenenado pela poluição, neurotizado pelo tráfego, martirizado pela burocracia, esmagado pela economia, vai levando, defendido pela couraça verbal do seu humor.

Só dói quando ele não ri.

Só dói quando ele não bate papo.

Só dói quando ele não joga no bicho.

Só dói quando ele não vai ao Maracanã.

Só dói quando ele não samba.

Só dói quando ele esquece toda essa folclorada acima, que lhe foi impingida anos a fio com o objetivo de torná-lo objeto de turismo, e enfrenta a dura realidade... carioca.


Texto extraído do livro "Que País é Este?", Editora Nórdica - Rio de Janeiro, 1978, pág. 50.

http://www.releituras.com/millor_carioca.asp
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