terça-feira, 1 de março de 2011

Rubem Alves - A luz da lua.

Os pores-do-sol nos comovem porque somos seres diurnos. Pôr-do-sol é fim do dia. Metáfora do fim da vida. Daí sua tristeza.

Mas, se fôssemos seres noturnos, aves para as quais o pôr-do-sol não é o fim mas o início - início da noite? Então, o sol poente anunciaria a madrugada da noite, o nascer do viver.
[...]
Entre nós, humanos, não haverá seres noturnos? Ou, indo um pouco mais a fundo: não haverá em todos nós um ser noturno que aparece quando o ser diurno vai dormir? O sol desperta em nós o ser que pensa, age e trabalhe. A Lua desperta em nós o ser que sonha, contempla e ama... Parodiando Bachelard: "Quer ficar tranquilo? Contemple a Lua que faz mansamente o seu trabalho de luz... ". Os amantes, contemplando a Lua refletida sobre o mar, estão vivendo a mansidão lisa que é necessária para o amor. Há recantos da alma que só acordam sob a luz branca e fria da Lua.

Rubem Alves em "Mansamente pastam as ovelhas..." Editora Papirus, p.54.

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