terça-feira, 31 de março de 2015
Notícia de Jornal
Fernando Sabino
Leio no jornal a notícia de que um homem morreu de fome. Um homem de cor branca, trinta anos presumíveis, pobremente vestido, morreu de fome, sem socorros, em pleno centro da cidade, permanecendo deitado na calçada durante setenta e duas horas, para finalmente morrer de fome.
Morreu de fome. Depois de insistentes pedidos de comerciantes, uma ambulância do Pronto-Socorro e uma radiopatrulha foram ao local, mas regressaram sem prestar auxílio ao homem, que acabou morrendo de fome.
Um homem que morreu de fome. O comissário de plantão (um homem) afirmou que o caso (morrer de fome) era alçada da Delegacia de Mendicância, especialista em homens que morrem de fome. E o homem morreu de fome.
O corpo do homem que morreu de fome foi recolhido ao Instituto Médico-Legal sem ser identificado. Nada se sabe dele, senão que morreu de fome.
Um homem morre de fome em plena rua, entre centenas de passantes. Um homem caído na rua. Um bêbado. Um vagabundo. Um mendigo, um anormal, um tarado, um pária, um marginal, um proscrito, um bicho, uma coisa – não é homem. E os outros homens cumprem deu destino de passantes, que é o de passar. Durante setenta e duas horas todos passam, ao lado do homem que morre de fome, com um olhar de nojo, desdém, inquietação e até mesmo piedade, ou sem olhar nenhum, e o homem continua morrendo de fome, sozinho, isolado, perdido entre os homens, sem socorro e sem perdão.
Não é de alçada do comissário, nem do hospital, nem da radiopatrulha, por que haveria de ser da minha alçada? Que é que eu tenho com isso? Deixa o homem morrer de fome.
E o homem morre de fome. De trinta anos presumíveis. Pobremente vestido. Morreu de fome, diz o jornal. Louve-se a insistência dos comerciantes, que jamais morrerão de fome, pedindo providências às autoridades. As autoridades nada mais puderam fazer senão remover o corpo do homem. Deviam deixar que apodrecesse, para escarmento dos outros homens. Nada mais puderam fazer senão esperar que morresse de fome.
E ontem, depois de setenta e duas horas de inanição em plena rua, no centro mais movimentado da Cidade do Rio de Janeiro, um homem morreu de fome.
Morreu de fome.
segunda-feira, 30 de março de 2015
"Meu coração tem um sereno jeito
E as minhas mãos o golpe duro e presto,
De tal maneira que, depois de feito,
Desencontrado, eu mesmo me contesto.
E as minhas mãos o golpe duro e presto,
De tal maneira que, depois de feito,
Desencontrado, eu mesmo me contesto.
Se trago as mãos distantes do meu peito
É que há distância entre intenção e gesto
E se o meu coração nas mãos estreito,
Me assombra a súbita impressão de incesto.
É que há distância entre intenção e gesto
E se o meu coração nas mãos estreito,
Me assombra a súbita impressão de incesto.
Quando me encontro no calor da luta
Ostento a aguda empunhadora à proa,
Mas meu peito se desabotoa.
Ostento a aguda empunhadora à proa,
Mas meu peito se desabotoa.
E se a sentença se anuncia bruta
Mais que depressa a mão cega executa,
Pois que senão o coração perdoa".
Mais que depressa a mão cega executa,
Pois que senão o coração perdoa".
terça-feira, 17 de março de 2015
domingo, 15 de março de 2015
As Horas - Viginia Woolf - fragmento
Querido, quero dizer isso — toda a gente o sabe.
Se alguém me pudesse ter salvo,
esse alguém
terias sido tu.
Perdi tudo menos a certeza da tua bondade.
Querido, ver a vida de
frente, sempre...
para ver a vida de sempre...e entendê-la...
do jeito que
é...entendê-la finalmente e
amá-la do jeito que é e então abandoná-la.
Leonard,
sempre os anos entre nós,
sempre os anos, sempre o amor...
sempre as horas. (Do
Filme As Horas)
segunda-feira, 9 de março de 2015
Bernardo Soares - Sintaxe
Há uma relação entre
a competência sintáctica,
pela qual se distingue a valia dos seres, dos sons,
e
das formas, e a capacidade de compreender
quando o azul do céu é realmente
verde,
e que parte de amarelo existe no verde azul do céu …
Sem sintaxe não há
emoção duradoura.
A imortalidade
é uma função dos gramáticos.
(Bernardo Soares)
Art. 7o São formas de violência contra a mulher, entre outras:
II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, ridicularização,e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação;
v - a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria.
II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, ridicularização,e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação;
v - a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria.
terça-feira, 3 de março de 2015
Grande Sertão: Veredas
Só se pode viver perto do outro,
e conhecer outra pessoa,
sem perigo de ódio,
se a gente tem amor.Qualquer amor já éum pouquinho de saúde,
um descanso na loucura.
Deus é que me sabe.
(Grande Sertão: Veredas)
e conhecer outra pessoa,
sem perigo de ódio,
se a gente tem amor.Qualquer amor já éum pouquinho de saúde,
um descanso na loucura.
Deus é que me sabe.
(Grande Sertão: Veredas)
Epígrafe do livro Miserere de Adélia Prado
“Oh meu corpo, protege-me
da alma o mais que puderes.
Come, bebe, engorda,
torna-te espesso para
que ela me seja menos pungente”
(Marie Noël)
segunda-feira, 2 de março de 2015
Gondim
Já não
tenho tempo para projetos megalomaníacos.
Já não tenho tempo para administrar melindres
de pessoas.
Já não tenho tempo para administrar melindres
de pessoas.
quero viver ao lado de gente muito humana
que sabe rir de seus tropeços,
não se encanta com triunfos,
não se considera eleita para
não se encanta com triunfos,
não se considera eleita para
a “última hora”,não foge de sua mortalidade,
defende a dignidade e deseja andar
defende a dignidade e deseja andar
humildemente com Deus.
Caminhar perto dessas pessoas
nunca será perda de tempo.
Caminhar perto dessas pessoas
nunca será perda de tempo.
Milton Nascimento - Txai
“Eu estava num barco na Amazônia,
e de repente a gente ouvia Ei! Txai!
Esperei dois dias para perguntar o que significava.
Um índio me explicou :
“mais que amigo, mais que irmão,
a metade de mim que existe em você e
a metade de você que habita em mim.
Quatro letras.
E quando uma pessoa te chama de Txai,
ela está pronta para dar a vida por você.”
(Milton Nascimento, no show Pietá)
Alberto Caeiro
- Damo-nos tão bem um com o outro
Na companhia de tudo
Que nunca pensamos um no outro,
Mas vivemos juntos e dois
Com um acordo íntimo
Como a mão direita e a esquerda.
domingo, 1 de março de 2015
Hamlet
De forma alguma, desafio os
presságios.
Há uma especial Providência na queda de um Pardal.
Se não for agora, está por vir.
Se não está por vir é esta a hora.
Se não for esta a hora, virá de qualquer modo.
Tudo é estar prevenido. (Hamlet - Ato V ,Cena II)
Há uma especial Providência na queda de um Pardal.
Se não for agora, está por vir.
Se não está por vir é esta a hora.
Se não for esta a hora, virá de qualquer modo.
Tudo é estar prevenido. (Hamlet - Ato V ,Cena II)
Baudelaire
O ódio é licor mui precioso,
um veneno muito caro,
porque é feito de nosso sangue,
de nossa saúde,
de nosso sono e
de dois terços de nosso amor próprio.
(Baudelaire).
um veneno muito caro,
porque é feito de nosso sangue,
de nossa saúde,
de nosso sono e
de dois terços de nosso amor próprio.
(Baudelaire).
Ricardo Gondim
Já constatei o estrago que
uma palavra mal dada produz,
(...) Não existem xingamentos ingênuos,
tudo o que se fala produz consequências
boas ou arrasadoras na autoestima de alguém.
Educação e sensibilidade não vêm de berço.
São construções que demoram às vezes a vida toda.
(...)Zelemos com um guarda nos lábios para que nossas
palavras produzam vida, nunca morte.
(Ricardo Gondim)
uma palavra mal dada produz,
(...) Não existem xingamentos ingênuos,
tudo o que se fala produz consequências
boas ou arrasadoras na autoestima de alguém.
Educação e sensibilidade não vêm de berço.
São construções que demoram às vezes a vida toda.
(...)Zelemos com um guarda nos lábios para que nossas
palavras produzam vida, nunca morte.
(Ricardo Gondim)
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